sábado, 14 de novembro de 2015

0 EFEITO MANGA

Dos duelos e personagens estilizados a decupagem detalhista, que torna os dialogos acessorios e as explicações desnecessárias,
o manga japones se impoe e inspira cineastas do leste e do oeste.

Por Juliana Parente



Ferimentos que provocam jorros caudalosos de sangue, espada repletas de firulas, golpes marciais precedidos par acrobacias impossiveis: voceja viu essas cenas no cinema. Seja usadas com ironia-como na sequencia em que Uma Thurman mala 88 espadachinesa em um restaurante em Kill BiLl: Volume I (2004) -, seja sena minima, como nas comercialissimas series Matrix, As Panteras e Missão Impossível. 0 que elas tem em comum? Como os enredos nonsense... a dramaticidade e a decupagem detalhista que fragmenta, para maximo efeito narrativo, transformacões sufis na expressão dos personagens ou no cenario, as lutas encenadas, coreografadas e estilizadas são características do manga, genero de história em quadrinhos que movimenta milhões no mercado editorial e de entretenimento japones e vem servindo, cada vez mais, de inspiraçaão para cineastas do Oriente e do Ocidente. Em muitos casos, os mandamentosdo manga que se origina da influencia da era de ouro dos quadrinhos americanos, nas decadas de 40/50, sobre os desenhistas japoneses - ressurgem transpostos para um imaginario francamente ocidental. Como no combate entre motocicletas de Missão Impossível 2.(2000): no fim da cena, os tais veiculos se chocam no ar, como fariam em um manga, tais mestres de luta. Se Tarantino.. que bebeu muito no cinema de arte asiatico, se aproxima mais integraImente da linguagem dos japoneses - em Kill Bill: Volume I, usa sete minutos de manga anima- do para contar o assassinato dos pais da poderosa 0-Ren Ishii (Lucy Liu) -, 0 sul-coreano Park Chan-wook vai mais Ionge. Seu Bad Boy (2003), sensaçao no ultimo Festival de Cannes, e baseado no manga homonimo de 1997, em que um sujeitoque ficou 15 anos preso sem saber o motivo e salto busca vingança.
Quase sem palavras o que ha de tão universal nos mangas que justifique seus trejeitos contaminarem cineastas de culturas tao diversas? TaIvez o rata de ser um exercicio intensivo de narrativa majoritariamente visual. A busca de economia de texto (leia o boxe Isto e manga) explica a ênfase nos detalhes, que destrincham as sequências de acontecimentos e tornam diaIogos acessórios e expli cações desnecessarias. Rodapes explicativos sao raros.
Eficientes para narrar, os mangas podem contarde historias infantis ate a vida de Buda - como fez Osamu Tezuka, criador do estilo de desenho tipico do genero, nos 14 volumes de Buda, que a Editora Conrad começa a lançar no Brasil no anoque vem.

È importante ressaltar que no Brasil, onde ashistorias em quadrinhos estao associadas ao público infantil e no maximo adolescente, principalmente masculino, afirma Rogerio Campos, diretor editorial da Conrad. "Buda, por exemplo, é um livro para homens e mulheres de idades diversas, com a diferença que a narrativa está estruturada em quadrinhos."
A mesma tecnica narrativa que anima os personagens de ficçãoao é usada para embalar cursosde administração e dicas de culinaria. "No japao, a segmentaçãode publico é pensada a partir de dois fatores: sexo e idade", explica Alexandre Nagado, editor da revista Animax Reloaded, especializada em manga e anime, desenhos animados japoneses feitos com base nas historias em quadrinhos (leia o boxe o tripé japones). "40% do papel impresso no japão é gasto com a publicação de quadrinhos, um mercado que é 17 vezes maior que o americano e supera o europeu 30 vezes", diz o editor da Conrad que vende, em media, 200 mil exemplares mensais de mangas e detem 47% do mercado nacional.

Milionários e irresponsáveis

Nada que se compare aos numeros japoneses: só Shonen Jump, uma das revistas de manga mais vendidas na ilha, ..tem tiragem em media de 3milhoes de exemplares...com previsão de 5 milhoes.
O sucesso do gênero é tamanho que há espaço mesmo para publicaçoes experimenta, títulos de tiragem menor mas que se tornam conhecidos por mudar os rumos da linguagem. A revista Garo é um exemplo: focada em novos desenhistas, revelou nomes como Suehiro Maruo, 0 sofisticado desenhista de 0 Vampiro que Ri, tambem .lançado aquí pela Conrad. "Ele tem um tom surrealista que lembra Bunuel", diz Rogerio Campos.
Mangas adultos, como os produzidos por Maruo, sao chamados gekigd (Iê-se guequiga) no japao. Em traduçao livre; o termo significa "desenhos irresponsavels". Irresponsaveis ou não, eles seguem os mandamentos dos editores, como o que proibe mostrar genitais femininos ou masculinos nas revistas.

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